quarta-feira, 1 de julho de 2009

O Abandono de Deus

" Por que o Senhor permaneceu em silêncio? Como pode tolerar tudo isso?" ( Papa Bento XVI acerca do holocausto na 2ª Grande Guerra Mundial)


Tal questionamento poderia parecer estranho, não fosse o Papa Bento XVI um reconhecido teólogo da Igreja Católica, com um longo currículo acadêmico. Esta pergunta traduz a investigação de um estudioso das bases da relação entre a criatura e o Criador, dentro dos princípios da sua fé.

O morticínio judeu na era nazista foi algo sem precedentes na história da humanidade, e sem dúvida aterroriza admitir que o homem possa engendrar crueldades desta ordem, sem que haja a intervenção da Providência Divina.

Várias indagações nos saltam : quais as razões de tais sofrimentos?Estamos irremediavelmente a mercê do livre-arbítrio insano das mentes cruéis?Existe um componente de destruição na vida ( a morte, as doenças,as guerras, os flagelos,etc), isto é natural ou é fruto da ação das forças satânicas, adversárias do Bem? Se desejarmos buscar em Deus respostas para tantas interrogações, certamente teremos que definir o objeto principal da ação de Deus, qual seja o espírito. Não há como adimitirmos que o Plano de Deus vise como prioridade a vida material da criatura e sua organização. Todas as ocorrências, agradáveis ou não, de sucesso ou insucesso, são oportunidades de crescimento do espírito.Somos convocados a ser co-criadores da obra de deus e isto exige crescermos em intelecto e sentimento.A elevação desses dois fatores também se faz mediante o componente da dor, fazendo com que sejamos compelidos a buscar mecanismos para superarmos a estagnação do nosso nível intelecto-afetivo. A dor, a princípio indesejável, serve como instrumento impulsionador para enfrentarmos a nossa real necessidade de crescimento pessoal e coletivo. Desta forma, uma nova visão da intervenção de Deus nos descortina. A morte é renovação.As guerras são crises coletivas que nos obrigam a repensar nosso conceito de justiça e igualdade. Os flagelos naturais são oportunidades de exercícios de solidariedade. Outro fator é termos que entender a profundidade da assertiva de que " os justos não sofrem" e " cada um sofre na medida em que fez sofrer" . Tais afirmações são infundadas se não buscarmos as " causas anteriores das afições". O plano de Deus é consequente, ninguém é vítima sem envolvimento e compromisso com os sofrimentos.Isto não justifica que sejamos deliberadamente instrumento de sofrer do próximo , mas estamos numa faixa de evolução moral em que " o escândalo ainda é necessário" , disse Jesus.Por mais que nos choquemos com as ocorrências funestas, precisamos compreender que Deus as permite como forma de nos sensibilizar para que nos portemos com mais fraternidade, independente das diferenças de qualquer ordem.

O Papa , por fim, perquiri: " como pode (Deus) permitir essa matança sem limites, esse triunfo do mal? ". Todos sentimos profundamente as mortes em massa da população civil e dos combatentesnaquele conflito sangrento, mas avaliar que houve triunfo do mal é deixar de reconhecer que para nos legar uma mensagem de profundo amor , o próprio Cristo se deixou imolar, morrendo na cruz, pois esta ainda é nossa sofrível condição, ou seja, para amadurecermos coletivamente é necessário movimentos trágicos, que normalmente ceifam vidas.E outra não foi a forma como se solidificou o Cristianismo com seus mártires.

Deus nos tolera nos imensos desequilíbrios que somos dotados.Alguns intectualmente avançados, e etico-moralmente tão precários, como vice-versa. Certamente, a misericórdia divina se apoia na segura afirmativa do Cristo de que haveremos de ser perfeitos um dia, como o Pai que está nos céus, sem que se perca uma só ovelha do seu rebanho, isto espiritualmente falando.

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