quarta-feira, 1 de julho de 2009

Na Religião Pura não há lugar para Preconceito e Dogmatismo

' As pessoas que estão repletas de dúvidas tendem a ser dogmatistas que nunca estão erradas' (John Powell - livro Por que tenho medo de lhe dizer quem sou?)

O preconceito e o fanatismo são um jogo ( máscara da verdade que cada um tem para compartilhar com o outro) de uma neurose social que aparece principalmente entre os inseguros.Gordon Alport, em The Nature of Prejudice, sugere que o preconceito se origina de nossas ansiedadessentimo-nos inseguros e juntamo-nos a um grupo como forma de proteção.Aqueles que estão fora de meu grupo são considerados um perigo e uma ameaça. Eu os ataco porque, de alguma forma, me sinto ameaçado por eles.
O preconceito é um engano emocional mas, onde quer que exista, nunca é reconhecido como tal pelas pessoas preconceituosas. O fanático vai sempre tentar explicar seu preconceito em termos intelectuais.Dificilmente admite a irracionalidade de sua posição.A maioria dos fanáticos ,portanto, não precisa de lidar com sua própria explicação lógica e racionalizada.Basta apenas recitar algumas frases bem ensaiadas.( John Powell - livro Por que tenho medo de lhe dizer quem sou?)

Qual seria o médium que poderíamos considerar perfeito?
- Perfeito? É pena, mas bem sabes que não há perfeição sobre a Terra.Se não fosse assim, não estarias nela.Digamos antes bom médium, e já é muito, pois são raros.O médium perfeito seria aquele que os maus Espíritos jamais ousassem fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que , simpatizando somente com os bons Espíritos , tem sido enganado menos vezes.(Allan Kardec-O Livro dos Médiuns-item 226-perg.9)

Tendo estas palavras como início de uma ampla reflexão, divido com vocês um texto do confrade André Marinho, que transfere esses pensamentos para nossa vivência no Movimento Espírita, reforçando o bom senso, a sensatez e a liberdade que deve apoiar nosso aprendizado com a Doutrina Espírita.Boa leitura!!!! Claudio Amaral


" BIBLICISMO ESPÍRITA ?

Por André Marinho

Diante dos profundos equívocos que a Igreja Romana vinha praticando no período da Idade Média surge Lutero, uma voz ativa e enfática, que deseja reformular a religião cristã. Diferente de Ernest de Roterdan que questionou mas manteve-se agregado à Igreja, o líder da Reforma em Wittenberg rompeu com agressividade, levando à divisão e ao confronto . A resposta política de Roma foi a Contra-Reforma.

A turbulência ideológica alcançava o seu auge, quando Lutero começa a formular os conceitos da teologia protestante.Desejando ir contra os abusos que vinham sendo perpetrados , estabeleceu-se o primado da Escritura, em combate ao primado da Tradição , exarado pelos Pontífices.

Sem perceber Lutero utilizou-se da mesma metodologia da Cúria: A Igreja para ele era falível, mas as escrituras eram infalíveis.As consequências deste raciocínio se encontram perpetradas nas religiões cristãs ocidentais da Europa e da América-Saxônica, gerando o movimento protestante fundamentalista nos Estados Unidos, no século XIX, intitulado Biblicismo.As interpretações das escrituras ( agora consideradas sagradas) deveriam ser tomadas ao pé da letra. A fé está na Bíblia e não em Cristo. O catolicismo assimilou, posteriormente,esta cultura . Como consequência vemos o Papa Leão XIII cada vez mais afirmar a inenarrância da Bíblia.

Modernos exegetas , como Franz König, indicam o quanto há de referências históricas e científicas equivocadas nas Escrituras, desviando-se muitas vezes da verdade.Será isso uma blasfêmia? Será que os livros do Antigo e do Novo Testamento, por serem inspirados não possuem erros?Muitos teólogos colocam-se calorosamente nos debates.Sim ou Não à Bíblia,à Tradição, à Autoridade?

Guardando as conclusões para os pensadores especializados nos assuntos de cristologia,sagradas escrituras,eclisiologia,antropologia teológica,teologia pastoral,história da Igreja e Ecumenismo, pensemos nós, os espíritas, o quanto o raciocínio luterano atingiu-nos.Poderá ser O Livro dos Espíritosquestionado? Por ser uma revelação implicamos em perfeição?Há ou não equívocos na obra de Allan Kardec?Onde está a sua sacralidade?

Refletindo na proposta pedagógica formulada por Allan Kardec, poderíamos nos questionar como ele consideraria estas perguntas.O Livro dos Espíritos é obra básica e fundamental da 3ª Revelação. A sua estruturação foi realizada por um homem, designado pelo Alto, para a Codificação.Allan Kardec , porém, era humano e embora estivesse permanentemente apoiado pela equipe do espírito de Verdade, poderia incorrer em erros.Suas notas , portanto, não podem ser consideradas sagradas para nós. São inspiradas, não perfeitas. Uma inteligência imperfeita não é capaz de produzir conceitos perfeitos , nem de captá-los. Ora , Kardec está no rol dos Bons Espíritos, mas não no dos puros.

Se, porém, as notas de Allan Kardec podem incorrer em erros ( isso não significa que estão erradas), e as respostas dos espíritos em O Livro dos Espíritos?Allan Kardec em inúmeras comunicações recebidas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas questiona todos os tipos de espíritos que se comunicam ali.Até mesmo São Luís e Erasto recebem as incertezas dele sobre as respostas.A composição de O Livro dos Espíritos se deu através de muito critério e bom-senso.As respostas selecionadas para a primeira edição, recebidas pelas irmãs Boudin e outros médiuns eram confrontadas e analisadas criteriosamente. Quais espíritos respondiam? Diversas eram as características intelecto-moral destas entidades. Por isso ocorrer, na 2ª parte do citado livro, a classificação dos espíritos.A maioria das informações aceitas pelo prof. Kardec eram respostas de espíritos superiores. Seriam eles,porém, pefeitos? Cairíamos em um grande conceito filosófico acerca da perfeição.O homem alcançará a perfeição ou o progresso é contínuo e nunca ele chegará a este grau supremo? Valendo-nos de qualquer uma das duas hipóteses, sabemos que os espíritos perfeitos (se existir) jamais se equivocam. Alcançaram o estágio máximo de conhecimentos.Poderiam eles estar conosco na Terra e escreverem através dos médiuns? Parece-me mais compreensível entender em espíritos bons ou mesmo elevados se comunicarem com os homens da Terra.

O próprio Allan Kardec não deu um cunho biblicista à doutrina, pois afirmou que se um dia a ciência provar o que vai contra o espiritismo larguemos a doutrina e fiquemos com a ciência.Há aí uma abertura grande do codificador. Quis ele também dizer que as informações dadas pelos espíritos bons, após todas as observações necessárias, possuem uma autoridade reconhecida, mas não um autoritarismo.Sim às respostas e não ao biblicismo (referente a O Livro dos Espíritos). As respostas dos espíritos não se enfraquecem com a constante análise e observação. Tudo será aproveitado e averiguado.Não há sacralidade conforme entende os dogmas romanos. Não é proibido pegar em O Livro dos Espíritos sem lavar as mãos, ou duvidar de uma das respostas ali inseridas.A sacralidade está muito mais no valor histórico do que no valor dogmático e ritualístico.Poderá haver sim equívocos em O Livro dos Espíritos. Ambos os autores, encarnado(Kardec) e desencarnado (espíritos) não haviam alcançado o auge da perfeição. Perderá um dia , porém, o valor informativo, o que está em O Livro dos Espíritos e se tornará idéias simples? Respostas para outras análises...

Campos dos Goytacazes, 30 de outubro de 2004"

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