quarta-feira, 1 de julho de 2009

Deus ou deus? (I)

" Vejo, continuou o Senhor, que este povo tem a cabeça dura. Deixa, pois, que se acenda minha cólera contra eles e os reduzirei a nada ... Moisés tentou aplacar o Senhor seu Deus, dizendo-lhe: Por que , Senhor, se inflama a vossa ira contra o vosso povo que tiraste do Egito com o vosso poder e à força de vossa mão? ... Aplaque-se vosso furor, e abandonai vossa decisão de fazer mal ao vosso povo ... E o Senhor arrependeu-se das ameaças que tinha proferido contra o seu povo. Êxodo 32,9-14

Se não tentarmos tirar o espírito da letra, sem dúvida parecerá um contra-senso a postura de um deus irado e impulsivo, determinado a castigar seu povo por ter-lhe contrariado.E, ainda mais, um deus que precisou da chamada à tolerância e a pacificação por parte de um ser humano, no caso Moisés.

Este absurdo de um deus chegando ao seu limite, pronto a explodir de tanta raiva, contrapõe-se à imagem do Deus de amor, que Jesus nos indica como sendo a nossa referência para a perfeição ( Mateus 5,48), e paradoxalmente no sermão do monte nos aponta: " bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus" (Mateus 5,9).

Isto demonstra o quanto precisamos filtrar as informações vindas por mãos humanas, por encerrarem distorções, fruto da imperfeição humana. Esta ficção inserida no livro de êxodo é tão fantasiosa, irreal, que só atende à sensibilidade espiritualmente imatura e rude de um povo de mais de 3000 anos atrás.Hoje, o nosso conceito acerca da magnanimidade de Deus, após o advento do Cristo, faz nos envergonharmos de tal estória, evidenciando um deus com tamanha fraqueza, por sentir vontade de " fazer mal" e se vingar. Um deus ressentido e surpreso com as reações humanas, como se não as conhecesse (onisciente?)em sua essência inferior, ou até mesmo,não fossem elas suas criaturas.Certamente, uma grosseira expressão antropomórfica de Deus, igualando-o à frágil condição dos seres humanos, ainda bem próximo das emoções dos deuses pagãos.

Assim, nos fica comprovada a necessidade de usarmos de ponderação ao conhecermos uma revelação espiritual, pois elas naturalmente sofrerão a interferência humana, o que as torna passíveis de se distorcerem com sua limitação e caprichos.

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