segunda-feira, 15 de junho de 2009

ASSEPSIA DO MÉDIUM

Uma das feições inerentes ao Centro Espírita é a de hospital, o que sintetiza sua condição de local de tratamento moral de encarnados e desencarnados, vítimas de sua ignorância e imprevidência. Todos, sem exceção, estamos atingidos nesse contexto e por isto precisamos nos revestir da dose de humildade necessária para tornarmos eficaz o resultado do processo de recuperação, a que somos submetidos.

Em um hospital vigora a grande preocupação com a não proliferação de agentes nocivos a saúde, em razão da condição precária em que se encontram os seus hóspedes. Certamente, a responsabilidade para com a extensa lista de cuidados profiláticos envolve os diversos níveis de trabalhadores de uma unidade hospitalar, desde os auxiliares mais simples pela limpeza de cômodos e utensílios até aos médicos em suas condições pessoais.

Esta analogia conclui pela importância do cuidado do médium com sua higienização mental, pois neste campo é que se operará todo o trabalho mediúnico. Se, principalmente, no dia da reunião, o médium não tiver a vigilância e a oração condizente a um obreiro do Senhor consciente, ele estará abrindo brechas na segurança montada pelo Plano Espiritual em face das peculiaridades de condições dos espíritos, a quem se destina as tarefas marcadas.

Cabe ao médium oferecer um campo mental favorável, limpo de impureza, de imagens deprimentes e negativas. Conduzir bem seu pensar, falar e agir neste dia, como em todos os outros, mas em especial no dia das suas tarefas mediúnicas, a sua parcela de contribuição na influência dos irmãos mais necessitados, que desde cedo, já estão em processo de afinização com o medianeiro, que lhe será veículo do benefício que lhes couber, a ser ministrado pela direção espiritual.

Médium não significa ser diferente das demais pessoas em possibilidades, mas requer que traduzamos nossa compreensão para com o papel que nos cabe, através do esforço de alcançarmos ser instrumentos mais adequados na mão da Espiritualidade Amiga, mesmo que isto signifique nos voltarmos com decisão contra nossas más inclinações, que muito bem conhecemos.Isto deve ser feito em respeito a Deus, que nos investiu dessa tarefa, e por amor ao servir, única via de correção de nossos espíritos tão necessitados de educação.

ANIMAIS NÃO TÊM ESPÍRITO

Imaginemos uma semente de laranja e vejamos se será cabível afirmarmos que temos nas mãos uma frondosa laranjeira carregada de laranjas? Sem dúvida a diminuta semente tem em si todo potencial da futura árvore, todavia confundí-los é uma retórica poética e filosófica acerca da identidade entre os caracteres iniciais e rudimentares de uma laranjeira que dormitam na semente.Analisemos O Livro dos Espíritos.

Na questão 540, os espíritos afirmam: "É assim que tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, pois ele mesmo começou pelo átomo". Mas, por isso concluo, não temos o direito de tomar que o átomo seja o arcanjo.

Um longo processo caracteriza o atingimento da condição de espírito por parte do princípio original emanado de Deus. Este princípio transita pelos reinos inferiores, onde agrega valores que o predisporão ao domínio da real inteligência ,que elabora e decide, e do sentimento que se solidariza, através das conquistas intelectuais e morais , exclusivamente inerentes ao reino da humanidade, único animado por um espírito na acepção correta de "princípio inteligente do Universo" (questão 23).

Na questão 597, os espíritos deixam claro que algo, inapropriadamente tomado por alma, anima os animais, mas afirmam também que imensa diferença tem esta da que anima os homens. Logo não podemos concluir que um espírito na plenitude de sua capacidade anima o reino irracional. Tanto que a questão 600 menciona que a alma dos animais é imediatamente utilizada ( vinculada a outro corpo) após o desencarne, pois não é um espírito errante.

Analisando as questões 607 e 607-a, verificaremos que antes de atingir a condição de espírito na escala da evolução, e animar um corpo humano, o princípio original que emanou de Deus cumpre sua primeira fase de evolução experimentando oportunidades antecedentes ao período que chamamos de Humanidade. Reforçam os espíritos : " É, de certa maneira, um trabalho preparatório, como da germinação, em seguida ao qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. É então que começa para ele o período de humanidade."

É inegável que os animais compartilham com o homem o estágio da inteligência , em virtude do instinto de que eles são dotados ser uma "inteligência rudimentar"( questão 75-a), decerto incomparável à do homem, cabendo relembrar o item 19 , do Capítulo VI, de A Gênese: "O espírito não chega a receber a iluminação divina que lhe dá, juntamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção dos seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra de sua individualidade. É somente a partir do dia em que o Senhor imprime em sua fronte seu cunho augusto, que o Espírito toma lugar entre as humanidades”. Depreende-se daí que nos reinos inferiores ( mineral, vegetal e animal) encontraremos a anima'-los algo sem "individualidade", característica básica ao espírito, sem a qual nenhum progresso responsável é possível. Poderemos até entender que nesses reinos vigora a existência de uma "massa fluídica", que se depura a partir das vivências no rumo da evolução inexorável.

Adivinhação não é Mediunidade

A arte da adivinhação acompanha o ser humano há séculos, bem antes da vinda do Cristo, que instituiu a regra básica da mediunidade: " dar de graça o que de graça recebeste" . A adivinhação tem íntima relação com o mediunismo, que é diferente de mediunidade. Acerca disto é preciso fazer a diferenciação: mediunismo e mediunidade. O mediunismo é a prática empírica, sem fundamentos comprovados e seguros que acarretem o necessário controle sobre a recepção da ação espiritual, sob as diversas formas de atuação ( psicográfica,psicofônica,inspirada,oratória,curativa,passe, materialização,etc), a fim de que a comunicação seja o mais fiel possível, com o menor grau de deturpação por parte dos elementos que se combinam para sua produção: o espírito, o médium e o ambiente. Já na mediunidade conduzida pelas orientações de Kardec tudo isso é considerado.Por exemplo,o objetivo pelo qual nos dirigimos ao plano espiritual. Se for fútil(ambições, materiais,prognósticos,curiosidade mesquinha,etc), atrairemos espíritos inferiores afins com tais níveis de interesses.

Um caso real ocorrido , há 38 anos atrás, na família de um companheiro meu, ilustrará bem essa situação.Sua tia materna sempre se sentiu atraída a consultar os adivinhadores de sorte e na visita a um deles fes a indagação se sua mãe seria bem sucedida em uma cirurgia já marcada. A adivinhadora informou que sim, mas que haveria uma segunda operação.Como anunciado, a primeira cirurgia ocorreu sem qualquer transtorno, mas devido um excesso por parte da senhora houve a necessidade de uma nova intervenção cirúrgica.Confirmado o presságio feito, sua tia retornou para saber como ocorreria e aí se instalou o pânico, quando veio a revelação de que desta tudo ocorreria bem , mas haveria uma terceira que seria fatal. Assim ocorreu. A senhora foi submetida a uma terceira operação.Foi um pandemônio.Toda família em polvorosa e a única tranquila era a senhora, que dizia: " gente, se chegou a hora tudo bem" .Toda família foi motivo de chacota por parte dos espíritos zombeteiros, que na verdade se prevaleceram da prova prevista para a senhora e se utilizaram daquela " médium desorientada" (cartomante) para instalar aquela agonia.Hoje a senhora está entre nós com 91 anos.

Diz-nos Kardec que os espíritos nada mais são do que os homens destituídos do corpo, nenhuma mensagem que deles se originem deve ser recebida pelos encarnados como INFALÍVEL, principalmente se o médium não cuida dos objetivos que lhe mova ao intercâmbio com os espíritos.

A União do Grupo Mediúnico

Nós estamos sempre esperando pelo apoio do plano espiritual, na condição de eternos usufrutuários das suas benesses.

Mesmo em nossas lides mediúnicas evocamos a proteção dos benfeitores espirituais, sem muitas das vezes cogitarmos do nosso papel no fenômeno mediúnico. Cabe-nos papel importantíssimo na sustentação do equilíbrio do padrão vibratório de nossas reuniões.

Este padrão é fruto do conjunto, ou seja, da união reinante entre os integrantes do grupo mediúnico. Dependerá da afeição e amizade existente entre os encarnados. Nem todos os desencarnados trazidos ao tratamento proposto pelos dirigentes espirituais junto ao grupo de médiuns em questão serão sensibilizados ao ponto de se demoverem de seus objetivos equivocados, mas de uma coisa não poderão se furtar. Ao entrarem em contato com o halo de sentimentos singelos, oriundos da afeição recíproca entre os integrantes do grupo mediúnico, eles serão impregnados pelo “doce perfume” emanado dessa convivência pura e verdadeira, que os farão refletir sobre uma outra realidade, diferente da sua, que talvez as palavras do doutrinador não conseguiram atingir sua razão, mas que a contagiante união do grupo produzirá efeitos de amenização em seus propósitos intransigentes no mal.

Aprimoremos nossa relação no grupo mediúnico, envolvendo-a em simpatia, solidariedade, alegria, tolerância e prece. Em obediência à expectativa do próprio Cristo: “Meus discípulos serão reconhecidos por muitos se amarem.”

A Senha da Conquista dos Valores Espirituais - ESFORÇO

" O alvo está sempre se afastando de nós.Quanto maior o progresso, maior o reconhecimento de nosso imerecimento. A satisfação está no esforço, não na realização. O esforço total é a vitória total." Gandhi

Espiritualmente falando não poderemos viver de aparência . Antes de tratarmos dos outros , teremos que olhar para nossas próprias deficiências e transformá-las. Pelo menos , iniciarmos a reparação, pois no tocante aos valores espirituais de cada um,ninguém dá o que não tem.

Não podemos nos iludir de que não alcançaremos êxito para induzirmos a transformação de outros , encarnados ou desencarnados, sem que previamentenos esforcemos por produzir as primeiras tentativas em prol da nossa reforma íntima.

De espírito para espírito não há como enganar. A melhor condição espiritual aponta para a luz, por outro lado projetaremos as trevas da nossa condição inferior.De nada adianta tentar expressar virtudes de superfície,o nosso compromisso tem que ser com a essência, e não com a aparência.

A cada contato com algum valor ou princípio cristão, devemos nos deixar tocar por sua influência, a fim de que trabalhe nossa natureza ainda primária e imatura, e assim possamos crescer sob o pálio do Evangelho do Cristo.

Esta verdadeira revolução é que nos garantirá condições para enfrentarmos os embates espirituais, e sermos respeitados pelos que se encontram na retarguada da evolução, por estarmos na busca e adquirindo aos poucos a postura moral condizente com um legionário da luz, que nos propomos ser. Para tanto não nos esqueçamos da orientação de O Evangelho segundo o Espiritismo, em seu Cap. XVII, " reconhece-se o verdadeiro espírita por sua transformação moral , e pelos ESFORÇOS que emprega para domar suas más inclinações".

Humanizando-me com os Animais

Tive três experiências marcantes com cachorros. A primeira foi na infância, com o " Crioulo" .Um vira-lata que era uma fera com os estranhos, mas um doce com os de casa.Sua situação ficou insustentável por ser tão irrascível com as visitas. Tivemos que doá-lo.Foi doída a separação. Até hoje me lembro o primeiro café da manhã, sem o Crioulo. Eu, meu pai e minha mãe nos sentávamos a mesa na sala e os miolos de pão eram jogados pela janela e o Crioulo se lançava ao ar para pegá-los. O Crioulo foi-se, mas nosso condicionamento não.Foi um café da manhã regado a lágrimas.

Muitos anos se passaram até que um dia , já casado, eu fosse a casa de uma amiga e lá me deparasse com uma cocker spaniel de nome Mina.Ela era muito afável. O pelo negro como veludo. Pensei com meus botões, se tivesse que ter um animal seria essa cachorra. Só pensei. Em outra visita, minha amiga me surpreende com a oferta: " Você quer a cachorra ? ". Não hesitei.Ela chegou até nós já com 7 anos, mas nossa convivência parecia ter muitos anos.Seu olhar triste nos seduzia. Foi um relacionamento de três anos muito intenso, que mexeu com todos nós , aqui de casa, principalmente meu casal de filhos.Apesar de seu afeto por todos, inclusive sua popularidade entre os vizinhos , que soube cativar,havia algo entre eu e ela muito especial,e assim foi até o término de sua agonia pela doença insidiosa,quando Mina me esperou, já completamente cega e abatida pelo diabetes e um cancer de mama generalizado, para morrer.Começamos nós dois numa noite vindos da casa de sua ex-dona e terminamos também juntos, sem ninguém em casa, agradecendo a ela a bela convivência.

Há tempos surgiu em nossa rua um labrador, o Bob. Bem marron escuro, com a boca vermelha feito sangue e os olhos castanhos claros. Virou freguês aqui em casa.É interessante como ele se apegou aos meus carinhos, apesar dele receber cuidados de outros vizinhos.Pelas manhãs , distraio-me com as corridas do Bob ao lado do meu carro, por longa distância, até à escola de minha filha.Isto sem falar , de quando ele está perambulando pelas redondezas e avista meu carro e o segue em desabalada correria e me segue até em casa e fica , mesmo cansado, esperando a recompensa em afagos, por sua fidelidade .Nas noites quentes nem aparece, some em suas noitadas sabe Deus por onde, mas é só cair a temperatura cair, ou principalmente chover, e le se posta em frente a minha casa, para deixá-lo dormir na garagem coberta, recolhido debaixo do carro para se aquecer junto ao motor.

Esses três animais me ajudaram muito a não perder-me na egoísta natureza humana e a descobrir que eles existiram para me humanizar, no melhor sentido.

Rocinha - Um esporte radical

Só mesmo a cidade do Rio de Janeiro para integrar turismo e lazer na sua expressão mais ampla. E eu pensei que conhecia toda as possibilidades deste binômio na minha cidade. Pensei que por ter frequentado cada metro de praiacada área verde dos bosques e florestas e muitos outros pontos atrativos , já tivesse usufruido de todas as maravilhosas sensações que esta pérola encravada entre o verde e mar pudesse oferecer.

Ledo engano.

Nunca pensei em praticar um esporte radical em plena cidade.E lá está a Rocinha, um dos maiores aglomerados humanos, localizado numa encosta no bairro praiano de São Conrado.É uma verdadeira cidade dentro da cidade. Com uma vida pulsante,intensa,um vai-e-vém de gente e veículos incomum.Nela vivi uma grande experiência.

Para alcançar o local onde eu deveria me dirigir, fui orientado a deixar o meu carro na entrada da comunidade e fazer a subida através de um serviço de motoboy.Só depois descobri que aquilo seria uma das maiores aventuras da minha vida.É inimaginável.Uma rua relativamente estreita, com carros estacionados a margem e um tráfego desesperador de motos, ônibus e vans.Fui informado que naquele serviço de motos havia umas 800 motos,subindo e descendo sem parar.

E a aventura começou.A competição das motos para saber quem consegue se desvencilhar dos ônibus e vans , passando por espaços minúsculos. A sensação em dados momentos é que vc vai ser emprensado, e eis que você surge do outro lado , só o motoqueiro sabia que o espaço era suficiente. Ainda bem que ele sabia.E isto tudo feito numa destreza alucinante.

A chegada no local desejado é num misto de torpor e gratidão.As pernas por pouco não abrem mão da sua obrigação de sustentar o corpo.O coração segue em seu batimento acelerado em resposta a tanta adrenalina.E quando se imagina que tudo encerrou , vem a compensação extraordinária da visão do mar de São Conrado.Uma pausa que me preparou para a obrigatória descida.Outra experiência radical, dessa vez vista de cima para baixo.A idéia é que se vai rolar do morro.Apenas impressão.Chega-se são e salvo e com uma sensação de estar mais vivo do que nunca.Vale a pena experimentar.

A Associação dos Bons

“Para que um povo seja feliz, é necessário que o número dos que querem o bem, que praticam a lei da caridade, supere o dos que querem mal e só praticam o egoísmo. Creio em minha alma e tenho consciência de que o Espiritismo, apoiado no Cristianismo, é chamado a operar esta revolução.” De Grand-Boulogne ( Revista Espírita-Agosto/1860)

“Por que , neste mundo, os maus exercem geralmente maior influência sobre os bons? - Pela fraqueza dos bons. Os maus são intrigantes e audaciosos os bons são tímidos. Estes, quando quiserem, assumirão a preponderância.” ( O Livro dois Espíritos-Perg.932)

Ser individualmente bom não é bastante. Ter uma natureza responsável para com seus deveres particulares não é suficiente. É preciso compartilhar seus valores , a fim de que eles se provem na experiência. Por de trás de muita bondade pode se esconder flagrante tibieza.Convém atestar e testar a opção de cada um de nós na condição de ser bom, através da disciplina e organização em torno dessa virtude.

A união daqueles que se dispõem ao exercício da bondade é fundamental para alcançá-la com segurança. A acomodação e o isolamento arrefecem os impulsos da bondade, impossibilitando seu desenvolvimento em nosso íntimo.

A associação entre os desejosos de verem a bondade instalada em seus interiores é vital. Até porque as quadrilhas e os bandos nos testemunham a mesma tática de sobrevivência da parte daqueles atrelados aos objetivos malfazejos. Alguma razão há. Certamente, pelo fato de que a convicção e entusiasmo de um alimente o outro nas suas horas de fragilização em torno dos objetivos propostos, sejam eles quais forem.

Mais do que nunca a palavra de ordem é UNIÃO. Ela amplifica os resultados dos nossos pequenos esforços individuais pela eficácia do conjunto. Aumentando nosso poder de concretizar e visualizar a vantagem de sermos bons.

Defendendo a Vida I (PENA DE MORTE)

Um princípio inteligente dita: “O que é válido para o menor é válido para o maior”. E socialmente isto é adequado, pois o coletivo assume atribuições que o individual lhe delega. A civilização se caracteriza pelos conflitos solucionados através da negociação, fruto do diálogo entre as partes. Nada mais primitivo e grosseiro do que a atitude brutal e radical do coletivo, em nome do particular, exterminar um dos seus integrantes por sua atitude indesejável. O descabimento do homicídio como meio de justiça pelas próprias mãos de um componente da sociedade, não se altera por ele ter sido praticado por um ente público representante de todos. A decência do particular deve se estender à representação da sociedade, se não o cidadão estará sendo hipócrita em não matar por si, já que tem um mecanismo legal que mata por ele.

Temos que reconhecer a nossa incompetência na condução do processo recuperador dos nossos irmãos transgressores. A sociedade inerte cria seus malfeitores, que uma vez entregues a um sistema penitenciário ineficaz, os qualifica e recicla em perversidade.

Quando assinalamos a pena de morte como solução, estamos sentenciando a nós mesmos por descrermos que seremos capazes de mudar para melhor. A pena de morte é o descrédito da sociedade sobre ela mesma. O Espiritismo nos indica a lei de sociedade como um instrumento de progresso, com que Deus nos muniu. Através das relações crescemos em todos os sentidos e nada justifica nos apartarmos ou a alguém da oportunidade de receber ajuda especializada e científica, mesmo que em regime prisional, para rever seus conceitos e princípios. A sociedade, nós como um todo, precisamos assumir o rumo de recuperação e apoio de todos os carentes, sem discriminação, inclusive dos detentos e seus familiares, através da terapia do trabalho e da ação social. A vida agradece!

Defendendo a Vida II (EUTANÁSIA)

Existe uma expressão que muito bem define a atividade do indivíduo, quando opta pela EUTANÁSIA: Pensar que é Deus. O ser humano tem essa necessidade, de si igualar ao Criador. E em certas horas ele extrapola. Eutanásia – dispor da vida de alguém por entendê-la em estado terminal, sem condições de cura.

A eutanásia é divulgada como um ato de misericórdia, que no fundo esconde uma boa dose de vontade de se desvencilhar do problema, que normalmente tem uma carga de dor muito grande, algo do que queremos nos apartar por considerarmos insuportável e incômoda.

Estes instantes críticos testam nossa capacidade de doação sem retorno, pois aquele por quem nos desvelamos não esboça sinais de gratidão ou sequer pode nos retribuir o afeto. É um momento nosso que revelaremos nossa natureza íntima. Nossa generosa e fiel opção por deixarmos que a vida se escoe em seu rumo natural. Sustentar dignamente a vida do doente incurável, sem perspectiva, é garantir igualmente a vida dos altistas, pessoas excepcionais e outros alienados, que por extensão, por sua profunda restrição na relação com o mundo objetivo poderiam também ser considerados como vidas inúteis, sem nexo.

Vidas que dão sentindo à vida de muitos e que a dedicação determinada e afetuosa dos seus amores, em muitos casos, foi capaz de desenvolver caminhos de curas parciais e totais. Só o amor gera a vida na plenitude de sua qualidade. Optemos pelo amor. A vida agradece!

Defendendo a Vida III (SUICÍDIO)

O Espiritismo vem nos esclarecer a importância das nossas existências para cada um de nós. Estende o significado da vida além dos limites de alguns poucos anos sobre a Terra e dilata nossos horizontes, nos apontando o infinito de oportunidades para o nosso crescimento espiritual.

A jornada terrena deixa de ser um fim em si mesma, e projeta suas conseqüências no futuro, ao qual estaremos forçosamente ligados. Por isso o sentido de responsabilidade se aviva, e a impulsividade e inconseqüência dão lugar à consciência do papel, que cabe a cada um de nós. Sem desespero, passamos a buscar a nossa identidade, que instalará a harmonia em nossos corações, dia a dia. A pergunta é: O que me cabe? O que só eu, com minhas características pessoais, poderei fazer? Como devo me posicionar frente à vida para ser útil, a mim e a todos em volta?

E aí, muda nosso sentido de vida. De um mundo acanhado, restrito, passamos a perceber o quanto somos importantes na engrenagem geral. O quanto nossa falta será sentida se desertarmos do “bom combate” antes da hora.

O suicídio é um ato impensado, que deixa de considerar todos esses aspectos

Se a solidão, o insucesso, a falta de perspectiva, a depressão, enfim qualquer motivo te leva a considerar o suicídio como uma opção (infeliz), recorre a um amigo, busca um cenário tranqüilo da natureza, o mar ou o campo por exemplo, e reabastece tuas baterias interiores no carinho e atenção, que tanto te fazem falta. Não te entregues ao negativismo, ao pessimismo, que só existem na tua mente, momentaneamente abalada.

Dá essa chance a ti mesmo, e verás tua recomposição gradualmente se estabelecer. Todos passamos por momentos difíceis, só não podemos nos entregar ao desânimo, sob o pretexto da falta de saída. Sempre há uma solução e ela se inicia na nossa confiança em nós mesmos e no Poder Superior, que a tudo rege. A vida agradece!

Defendendo a Vida IV (ABORTO)

Uma das bases do Espiritismo é a reencarnação, que dita a possibilidade de termos várias existências. O aborto se antepõe contra essa oportunidade renovadora do espírito, de numa nova chance reparar e reajustar seus equívocos anteriores.

Reconhecemos que nem toda geração de vida está envolta em expectativas positivas. Condições financeiras e de relações não propícias fragilizam a hospedeira do novo ser, mas a vida é cheia de exemplos de que uma gravidez, a princípio indesejável ou inesperada, transformou-se numa razão de vida, criando esperanças e metas. Motivo por ter que lutar. A vida egoísta tem suas bases características, muitas vezes não tão positivas ou sadias. A vida responsável por outro ser nos torna mais ponderados e conseqüentes.

Também é responsabilidade organizarmos nossa vida, fazendo com que nossos filhos cheguem no momento mais desejável. Contudo, a vida se constitui de surpresas, que nós podemos converter em favoráveis na maior parte das vezes. Este poder criativo é fundamental para reforçarmos nossa postura otimista e bem humorada frente a vida. Recepcionemos bem nossos hóspedes, e eles se converterão em nossos aliados. A vida agradece!

Traição ou Ponto de Vista ?

Todo ano a tradição católica comemora em 28 de outubro o dia de São Judas Tadeu, e sempre ouvimos alguém mais fervoroso ao santo comemorado, preocupar-se em distingui-lo do outro Judas Iscariotes, mas referindo-se a este como o Traidor. Esta alcunha inspirou até mesmo a prática na cultura popular de malhar o Judas, no sábado antecedente à Páscoa.Busquemos entender melhor.

A figura de Judas Iscariotes no contexto apostólico representa o crente na libertação pela via da organização do mundo. Ele quis forçar Jesus a tomar uma atitude revolucionária, que não lhe cabia por missão. A política e o poder temporais não eram instrumentos de convencimento do Mestre. Todavia, Judas não entendeu isto e, aparentemente, “traindo”, tentou pressionar o Cristo a rebelar-se, deflagrando um confronto com a situação vigente, em nome de uma ideologia genuinamente judaica.

Tal não foi sua profunda decepção pessoal ao constatar a ineficácia de seu estratagema,deprimido,atenta contra a própria vida, mediante o Cristo entregar-se pacificamente, consoante sua mensagem de não-violência. Nada mais coerente, tendo inclusive, no ato da prisão, que aplacar o ímpeto agressivo de seu outro discípulo, Pedro. Mesmo os mais próximos pouco alcançavam a grandeza da missão do Cristo, e de sua estatura moral. Judas não foi diferente. Aferrado aos anseios libertadores do povo judeu, esperava por um guerreiro defensor dos ideais de raça, e Jesus era o manso por excelência.

Todavia, nós,ao longo dos tempos, não nos apresentamos melhores do que ele.Canalizamos para Judas Iscariotes nossa perfídia aos ideais cristãos, estendendo-o nossa incapacidade de perdão e amor fraternal. Escondemos nossas mazelas morais apontando-o traidor, quando na realidade da vida nos dizendo cristãos, negamos e atentamos contra o Cristo a todo instante. Judas Iscariotes personifica nossa impotência de entendermos e vivermos a palavra do Cristo, por isso ele nos incomoda tanto.

Shopping-Templo do Consumo, cuidado!!!

Vou me valer deste tópico para tratar de um assunto, aparentemente bem diverso do título, mas que guarda identidades muito próximas com ele.O shopping é a concentração em um só local de variadas ofertas ao consumo.São imensos espaços que facilitama a atividade econômica em conjunto com a comodidade do consumidor, entre a necessidade de compra real e a ilusória.

Meu enfoque se prende ao desdobramento desta facilitação e desta profusão de ofertas, sob as luzes e os apelos do merchandising.O que representa este consumismo frenético? Qual o limite entre o consumo em prol de uma necessidade real e a busca sem limite do necessário? Qual a razão para o consumo ser um objetivo em si mesmo?

Essas indagações nos projetam ao quadro patológico da transformação do consumo de uma necessária atividade econômica para uma síndrome do uso indevido de um objeto de compulsão.Esta noção precisa ficar bem clara, pois neste momento o consumo se equipara ao papel de qualquer substância química que nos entorpeça os sentidos e altere nossa capacidade de discernimento adequado da vida e do nosso comportamento.

O compulsivo pelo consumo não administra sua vida pela necessidade do objeto da compra, mas centraliza seu descontrole em razão do prazer gerado em cada conquista pela obtenção, e a busca deste prazer intensifica cada vez mais o ato de comprar, levando o compulsivo a assumir altos compromissos, muitas vezes acima da sua possibilidade financeira razoável, gerando perdas e conflitos.Isto sem dizer, que sem nunca atender a ânsia da compra, pois a verdadeira causa motivadora deste descontrole não é a propaganda , mas a angústia e dor existentes no indivíduo, mascaradas, e que precisam lhe ser devidamente apresentadas, através de uma ação profissional.Neste ponto, a relação indivíduo e consumo passa ter características perversas, pois o compulsivo gira sua vida em torno da busca da sensação prazerosa da compra, fazendo disto uma obrigação para se sentir íntegro, a qualquer preço.

É preciso verificar quando uma atitude comum ao nosso dia-a-dia passa a ter contornos de abuso com uma ocorrência além dos padrões aceitáveis, ou seja, que escravizam o indivíduo por sua repetição reiterada, como a denunciar a existência de motivos velados, que ainda não conseguimos perceber com nitidez.

Coincidências, ou Não?

Sou de origem pobre. Mais do que natural que eu chegasse a este mundo,em 1958, acolhido numa instituição Maternidade " Casa da Mãe Pobre ". Esta informação dada por minha mãe nunca me saiu da cabeça, principalmente sua localização no bairro do Rocha, no Rio de Janeiro. Até que um dia , já adulto, andando pelo Largo da Carioca, no centro do Rio,me deparei com uma barraca de venda de livros usados. Ao folheá-los, me caiu às mãos um exemplar comemorativo dos 50 anos daquela instituição, completados em 1990.Meu impulso de adquiri-lo, pela satisfação de poder conhecer um pouco mais sobre a minha maternidade. Qual não foi a minha surpresa quando descobri que nasci em uma instituição espírita.

Eu deveria contar com uns dez anos. Estava numa farmácia denominada " Santa Rita", no bairro do Irajá/RJ, perto da estação do trem ( hoje metrô), quando me envolvi com uma leitura de um livro de uma estante para venda, e pedi a minha mãe para comprá-lo, o que se constituiria no meu primeiro livro.O livro intitulava-se A cabana do Pai Tomás (Harriet B. Stowe). Lembro que a leitura me foi muito agradável e marcante.Muitos anos depois encontrei um comentário, de Allan Kardec, ao cunho espírita dos conceitos desta obra na Revista Espírita de novembro de 1868.

Estes dois fatos assinalam um indício ,para mim, da fatalidade do meu envolvimento nesta encarnação com o conhecimento e a atividade espírita, que me acompanham a tantos anos.Numa prova inequívoca de que coincidências não existem.

Natal Sempre

Nada caracteriza mais o Natal do Cristo do que a manjedoura. Ele chegou envolvido da maior humildade, deixando claro que esta é a condição fundamental para estabelecermos o reino de Deus na Terra.

Adentrou o mundo físico entre animais, que foram seus protetores para que sua vinda não tivesse qualquer hostilidade. Foi um momento estratégico, pois qualquer entrave humano poderia sustar a chegada do Messias.

Valeu-se de pais pobres, de precárias condições, pois era essencial que a simplicidade orientasse seu crescimento entre os homens. Isso robusteceria suas palavras, pois ela encontraria eco entre a gente do povo.

Encontrou adversidades dentro do próprio grupo familiar, onde não foi entendido, apesar de nunca ter se rebelado.

Prezou a convivência com seus compatriotas e pares no messianato, demonstrando em várias oportunidades conhecê-los em profundidade e os acolhendo dentro de suas características, sem exigir além das suas possibilidades.Tomé,Pedro,Maria de Magdala e Judas foram exemplos de sua tolerância e indulgência sem fim.

O tesouro da mensagem do Cristo foi-nos legado em poucos 33 anos, e começou no dia glorioso do seu natalício, que convencionamos comemorar dia 25 de dezembro. Não importa a precisão cronológica, mas relembrarmos essa odisséia espiritual para que o Amor encarnasse entre nós.

Seja o Natal um convite permanente para nos aproximarmos mais do Cristo. Saúde e Paz !

A CONDIÇÃO ESSENCIAL PARA SER ESPÍRITA

“Não é espírita quem quer, só é espírita quem pode” ( * Armando de Oliveira Assis ) A princípio esta afirmação me soou pretensiosa,pedante.Todavia, ela encerra uma avaliação da realidade do movimento espírita, quanto a sua composição.Nossa doutrina é recente, pouco mais de 150 anos, o que garante serem os espíritas, na maioria, espíritas pela primeira vez. Significativa parcela dos integrantes do nosso movimento, em nossa sociedade, é oriunda do catolicismo,protestantismo e umbanda.Trazem impregnados de sua formação original características predominantes dessas experiências transatas, e mesmo desta vida:
1) “Espiritólicos” – ex-católicos, caracterizados pela fé cega e forte aversão ao questionamento

2) “Espiritélicos” - ex-evangélicos,caracterizados pelo apego intransigente a correntes de pensamento de autores encarnados ou desencarnados (“biblicismo espírita”) , e

3) “Espiritistas” - ex-umbandistas, caracterizados pelo misticismo e empirismo. Além disso,todos com um traço em comum, a forte influência da teocracia, indutora de uma deformação de suas convicções pela possível ação manipuladora de sacerdotes,ministros da fé ou líderes, únicos detentores da Verdade, sem qualquer estímulo à própria busca por parte do adepto. Lamentavelmente, tal viciação acompanha-os à vivência espírita, quando então persiste a necessidade de manterem-se atrelados à orientação de figuras centrais, como nos credos antigos, transferindo agora aos médiuns e dirigentes espíritas, que passam a ser “muletas” e “bengalas”, numa infeliz continuidade da dependência já anteriormente instalada, produzindo uma fragilização da convicção espírita pessoal. Muitos apoiam a tolerância ilimitada com a ocorrência desses desvios. Precisamos entender que não é o remédio que deve se adequar à vontade do doente, sim o contrário. Assim, somos nós que precisamos incorporar o Espiritismo tal qual ele é, sem concessões.Daí a justeza da citação que encabeça este texto. Para se ter uma vivência pura e honesta com o Espiritismo é preciso, inicialmente,decidir intimamente romper com hábitos das experiências dogmáticas, que são atitudes e rotinas, pessoais ou coletivas, que impedem atingirmos a condição de espíritos livres. Não é quem quer que travará uma relação de sucesso com o Espiritismo , mas quem estiver apto a assumi-lo pela simplicidade, que nos liberta de verdades artificiais e falsas expressões de segurança.


* Presidente da Federação Espírita Brasileira de 1970 a 1975