sexta-feira, 30 de abril de 2010

Antes de espíritas, somos seres humanos.Todo cuidado é pouco

Trabalhei com um companheiro que ouvia meus "causos" e ele me apelidou de Forrest Gump (O Contador de Histórias). Este é o preço que se paga por ter vivido sem medo de ser feliz ( ou infeliz ! ).

Então, com licença, lá vai mais uma das histórias da minha vivência.


Nestas andanças pelos centros espíritas da vida , me deparei com um acontecimento ilustrativo.Neste caso específico, a audiência era muito grande e a palestra transcorria em harmonia. Em dado momento eu fiz a seguinte referência:" ... pois às vezes deflagramos a Terceira Guerra Mundial dentro de casa pelo fato de alguém ter usado uma roupa nossa ...". Mais algum tempo de preleção e encerrei meus comentários. Ao retomar a palavra, o dirigente da reunião me agradeceu a colaboração e pediu desculpas por não entender determinadas situações, pois ficava "pau da vida" quando pessoas de sua casa usavam suas roupas, pois considerava uma falta de respeito. Saliente-se, nunca contestei isso,pois a verdade deve ser dita,dependendo da forma (por isso aludi à Terceira Guerra Mundial).E tal era sua indignação com a ocorrência , que ainda repetiu mais duas vezes a expressão já utilizada. A platéia foi levada aos risos e, posteriormente, deu-se por encerrada a reunião , iniciando-se os passes.


Algumas ilações se pode absorver do episódio:

1ª) Uma reunião doutrinária pública é a oportunidade de se reunirem várias pessoas , com origens e realidades diversas, e se tentar harmonizá-las em torno de reflexões sobre o pensamento de Jesus e Kardec. Tarefa pouco fácil, mas que fica mais prejudicada se existe um chamamento à grosseria vulgar como no caso da expressão usada, limiar do uso de uma palavra de baixo calão, o que deve ter concorrido para a hilariedade dos ouvintes.Com certeza o padrão mental deve ter sofrido uma queda;

2ª) A responsabilidade de um dirigente de reunião doutrinária é muito grande. Além de coordenar o andamento da reunião, lhe cabe a supervisão e controle de todas as ocorrências no ambiente da reunião. Por exemplo, caso de alguma alteração inconveniente no comportamento da platéia e avaliação no teor dos argumentos utilizados pelo expositor, se estão condizentes com a Doutrina. Se nenhum desses aspectos necessitarem de reparo, não caberá seu pronunciamento, acrescentando nada.Muitos dirigentes se valem do fato da sua posição para " choverem no molhado " do que foi dito anteriormente. Ser dirigente de reunião não é ser orador complementar. Não é ser dono do microfone.Com certeza a referência " ao uso da roupa " deve ter atingido uma questão mal resolvida dentro da realidade psicológica do dirigente da reunião, e ele se prevalecendo da sua posição, foi levado a um " afrouxamento de censura pessoal " e se permitiu desabafar uma indignação particular com uso de expressão inadequada ao ambiente. Típica imposição do particular sobre o público.


3ª) A alternância entre os expositores, sempre que possível, é algo salutar pela diversidade de enfoques que proporciona. O mesmo deveria ser aplicado aos dirigentes de reuniões públicas.Quando nos achamos estabilizados numa posição tendemos à estagnação,advindo os riscos de acidentes de percurso. Todo trabalhador mantido, por muito tempo, em evidência, a frente de um trabalho, tem a tendência a incorporar maneirismos ao seu comportamento na direção do trabalho, dificultando a meta de se promover a liberdade individual de cada um entender o conteúdo da exposição segundo seus critérios pessoais.

Todo acontecimento nos traduz ensinamentos.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Vaidade, todo cuidado é pouco

A convivência com os princípios espíritas, sem que percebamos, vai clareando determinados pontos em nossas vidas, que antes eram aceitos sem questionamento das implicações morais e do sentido ético, ou não, embutido neles.



Permitam-me apresentar uma experiência vivida.



Certa vez, fui convidado a fazer parte de um evento espírita, realizando uma palestra num município vizinho ao Rio de Janeiro.Acertei os aspectos específicos do estudo e , por fim, o representante do evento me solicitou informá-lo de um currículo mínimo para ser lido antes do meu estudo.Eu me neguei a informar.Ele insistiu.Eu ,então disse, que os dados mais relevantes de minha vida, dos quais eu mais me orgulhava, era ser casado com minha esposa e ser pai dos meus dois filhos ( tirei uma onda ...). Para mim era o que cabia num ambiente espírita. Enfim, acabei fazendo a palestra sem apresentação de currículo algum.



De minha parte, não considero cabível o ritual da formalidade catedrática de apresentação da vida pregressa intelectual e profissional num culto espiritual, onde pessoas de “ poucas letras” estariam presentes e poderiam se sentir intimidadas e constrangidas por sua pouca instrução, sendo equivocadamente levadas a crer que o(a) detentor(a) de um currículo mais denso é o “ dono da verdade “ inquestionável. Em Espiritismo, todo este contexto é abominável e indesejável.



Vejam, é válido na vida protocolar do mundo, mas não é recomendável na convivência espírita. Esta avaliação mais detalhada sobre as conseqüências de uma atitude ou iniciativa qualquer é que faz da convivência genuinamente espírita algo mais refinado, por medir como as decisões podem repercutir nas demais pessoas, e estar sendo estímulo, como no caso apresentado, à vaidade de todos nós, de quem ouve e , principalmente, de quem fala e dirige reuniões.



É um risco, é bom não pagar pra ver ...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

NÃO É BEM FALTA DE TEMPO

É muito comum hoje,frente à impossibilidade de se cumprir algum tipo de tarefa, justificar-se com a seguinte expressão: ' Não tive tempo' . Até mesmo como explicação a entes amados, quando eles reclamam pelo fato de não lhes procurarmos, logo recorremos à escassez do tempo e asseveramos: ' estou sem tempo para revê-los'.

Um amigo muito querido, num de nossos longos diálogos, me ofertou uma pérola, que me calou muito fundo. Disse-me ele: ' Você sabe qual é a definição de tempo? Ao que respondi negativamente. E ele completou: Tempo é prioridade '.Sinceramente, esta sentença me chocou, pois a recebi como uma revelação da mais alta inspiração.E como toda grande sabedoria, envolvida numa sutil simplicidade.

O tempo não muda, mas nossas prioridades sim.

Falta-nos honestidade em reconhecermos isto, pois a forma de como estamos preenchendo nosso tempo, diz qual é a importância das tarefas realizadas em nossas vidas, e quais são os valores que estamos cultivando ou deixando de cultivar em dado momento.É muito comum termos crises de saudosismo de práticas em épocas passadas, que na atualidade são incompatíveis em nossas rotinas por nossos objetivos serem outros, nem tanto pela impossibilidade de revivê-los, em alguns casos, por suas cenas e personagens,mas por termos tomado rumos distantes, responsabilidades diversas, que nos impedem de reviver prazeres idos.

Somos em todos os instantes obrigados a optar, escolher.E assim, nossas vidas vão tomando feições diferentes daquelas anteriormente existentes.

Por isso,principalmente,quando nossos amores e amigos nos reclamam a presença, maior atenção, recorremos ao chavão da 'falta de tempo' , pois poderia ser mal compreendido lhes dizer a verdade, que se esconde por trás da omissão: ' Você não é minha prioridade atualmente'.

Obrigado, Sylvio Diniz, pelo ensinamento. Te amo.

sábado, 17 de abril de 2010

Centro Espírita não é igreja, mas ESCOLA

“ As Sociedades Espíritas devem fazer a mesma coisa e conseguirão grande proveito para o seu adiantamento ao promoverem conferências em que seja lido e comentado tudo o que possa ter relação com o Espiritismo, a favor ou contra. Dessa discussão, a que cada um dá a contribuição das suas próprias reflexões,saem os esclarecimentos que passam despercebidos numa leitura individual.Ao lado das obras especiais, os jornais também contribuem com fatos,notícias,reportagens,relatos de virtudes ou de vícios que levantam graves problemas morais susceptíveis de serem resolvidos pelo Espiritismo. “

(Allan Kardec – O Livro dos Médiuns – item 347 – 2ª Parte – Capítulo XXIX ) *





Na afirmação do título não se deve inferir qualquer distinção discriminatória ou ofensiva , simplesmente uma constatação de diferença de postura institucional de um centro espírita no desempenho da sua finalidade de esclarecer a espíritos de encarnados e desencarnados.



Tradicionalmente , uma igreja caracteriza-se por uma postura dogmática,mesmo autoritária, na divulgação de sua doutrina de eleição.Não há discussão do mérito.Pressupõe-se um detentor de todo conhecimento teológico, e a ele cabe a tarefa de conduzir os demais adeptos a concluírem segundo sua visão, como se não houvesse outra(s) forma(s) de enxergar o tema apresentado.Daí, ser de domínio público a afirmação: “ Religião não se discute, se aceita”.



O Espiritismo luta, com muita dificuldade , contra esta postura passiva, quase de inércia, comum às nossas experiências anteriores no campo religioso. Com seus poucos 153 anos de organização ( 18 de abril de 1857), o Espiritismo encontra resistência , até mesmo entre seus adeptos,que contrariamente às sugestões de Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns (*), proíbem nas reuniões públicas que seus freqüentadores externem suas opiniões,alegando ser necessário se manter a harmonia e disciplina do ambiente, ferindo desta forma a natureza primordial do centro espírita que é de ESCOLA, onde nos instruimos e educamos naturalmente em todas as oportunidades e com todas as ocorrências.



No Centro Espírita não cabe convencionalismos igrejeiros inibidores da participação e crescimento pessoais , por ele ser um polo incentivador da busca individual da Verdade com liberdade , num clima fraternal e solidário, inclusive pela franca oportunidade do intercâmbio de impressões, tornando a reunião produtiva e agradável pela contribuição de uns para com os outros, para ampliação de nossas limitações.