terça-feira, 7 de setembro de 2010

Jesus, o Psicoterapeuta

Ainda no cumprimento do seu messianato, Jesus se valeu da indagação feita se ele poderia interferir numa partilha de bens de uma herança, e advertiu não ser esta sua finalidade ( Lucas 12,13-14). O Cristo não veio até nós para tratar das questões materiais, imediatistas, e sim do essencial ( Mateus 6,21-22). Sua missão é de um terapeuta do espírito, tratando de todos aqueles que se aproximam de sua mensagem na sua natureza mais íntima. Ensinando-nos a perseguir a meta de libertação pela afirmação de nossas individualidades, confiantes de que cada experiência, agradável ou não, é parte integrante desse aprendizado. A relação de Deus conosco não é punitiva, mas educadora, por isso nos confrontamos com as conseqüências de nossos atos de ontem e hoje, por medida de responsabilização. Eis algumas dessas orientações fundamentais deste psicoterapeuta por excelência para nossa escalada no domínio equilibrado e harmônico dos valores eternos do espírito:

1) “ Ajuda-te e o céu te ajudará “

AUTONOMIA – É o ponto de partida de qualquer um de nós em razão das mudanças estruturais em nosso ser. Quando adoecemos na alma, nossos argumentos sempre focalizam mais os outros, sobretudo responsabilizando-os pelo que nos ocorre, distanciando-nos da autoria dos acontecimentos em nossas vidas que nos infelicitam. Tudo nos atinge por total aprovação e permissão nossas. Qualquer benefício ou ajuda, mesmo espiritual, virá ao nosso encontro se decidirmos autonomamente por nos fazermos alvos da ajuda. Esta é a primeira grande noção de limite. O limite da competência sobre nossos destinos: cuidarmos de nós mesmos.


2) “ Seja teu dizer: sim, sim; não, não “

ASSERTIVIDADE – É a profunda relação de coerência entre o que pensamos e o que manifestamos. Em geral, nossas percepções íntimas acerca de fatos e pessoas, são guardadas a sete chaves, por considerarmos que as nossas impressões não devem ser ditas. Com isso “ engolimos sapos” , nos desagradando e agredindo-nos, por acharmos pior contrariarmos o outro,sob a alegação de que o outro pode se chatear e quem sabe se afastar. Tal postura nos coloca em posição de únicos responsáveis pela manutenção das relações de amizade, parentesco, etc., mesmo que discordemos de determinados aspectos na conduta do outro, sem que aja abertura para externarmos a discordância. Esta forma desigual de relacionamento leva muitas vezes a situação extremas, pela insustentabilidade da tolerância com os desconfortos auto-impostos, ocorrendo o que se chama comumente: explodir na hora errada, e de forma exagerada, com cobrança de juros de mora. Por ter contido sua insatisfação pessoal para não ser desagradável ( a quem ?), a pessoa acaba assumindo uma atitude extremada, falando descontroladamente suas razões, causando um impacto violento no outro.Tudo isto por não ter um compromisso primeiro com suas aceitações, e definir de forma nítida e tranqüila a sua impressão sobre a situação, na medida em que se faça necessário, sem tardança.


3) “ Brilhe a vossa luz “

SINGULARIDADE – Somos uma incógnita de possibilidades. Guardamos inúmeras opções de realizações, dependendo dos estímulos que surgirem em nós, em face dos desafios do ambiente. Condições temos de superar esses desafios, desde que tenhamos sido conduzidos , desde cedo, em acreditarmos no resultado dos nossos esforços , do investimento de cada um em sua Inteligência e Sentimentos, o que nos torna singulares, incomparáveis. Ninguém faz nada exatamente igual ao outro, temos inclinações próprias que nos caracterizam a individualidade, e que nos personificam.Valorizemos nossas diferenças, pois elas reafirmam nossa importância no grande concerto da vida.


4) “ E que se alguém vos obrigar a caminhar mil passos com ele, caminheis mais dois mil “

RESILIÊNCIA – Esta noção está profundamente ligada a resistência à frustração e ao desânimo. Nosso imediatismo e prepotência exige que as soluções das dificuldades sejam instantâneas, mas a realidade nos exige um pouco ( muito!) mais. É preciso reconhecer que os desconfortos podem ser gerados por questões que envolvam outros, e que só poderemos alterar a parte que nos toca, e até que os fatores independentes se alterem, boa parte do desconforto se manterá. A não ser que de nossa parte desenvolvamos novas habilidades para irmos além dos nossos limites de resistência atuais, ao contrário de quando dizemos: sou assim mesmo, não mudo. Desencravar crenças enraizadas e atualizá-las para sobreviver as dificuldades é um ato de extremo amor por si mesmo. É ir além do que se imaginava que poderia, é admitir a feição educadora da realidade.


5) “ O Escândalo é necessário, mas ai daquele por quem venha o escândalo “

EXPERIENCIAÇÃO – A vivência pessoal das emoções e sentimentos é insubstituível. É a oportunidade de aferir valores que nos esclarecem a realidade, nos fazendo perceber os pontos truncados que nos fazem sofrer. Sentimentos foram feitos para serem sentidos, e a nossa busca pessoal, sem medo, é que faz percebermos com clareza nossa natureza interior e seus mecanismos próprios de gerar bem e mal estar.O escândalo simboliza todo e qualquer desajuste com suas naturais consequências de impacto em nosso meio.
Importa reconhecer que a vida , a nível humano, não prescinde do equívoco, como instrumento necessário ao nosso auto-conhecimento. Não temos porque estigmatizar o erro como mau, pois através da sua necessária vivência descobrimos quem somos, sem máscaras, podendo optar por mudanças, se preferirmos.

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